segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


Skoteinós

A “mestra” zombeteira tomou de minhas mãos o pequeno livro, e cheia de ironia perguntou se era um “daqueles” de sabedoria onde se abre numa página qualquer e “retirasse” um ensinamento?
Bom; pensei eu; é e não é! Sim, é um livro de sabedoria, mas talvez não ao gosto popular. Mais para um “skoteínos” – obscuro fragmento heraclitiano, do que para uma mensagem facilmente palatável.
O resultado não foi outro! A audiência permaneceu imóvel e muda após a curta leitura do poema (um poema místico de Rabindranath Tagore).
Ninguém compreendeu as palavras apressadamente lidas. Como poderia vir eu então dizer do que se tratava? Não podia! É o tipo de “coisa” que poucos – infelizmente – compreendem.
Por exemplo. Na curiosidade ela buscou o capítulo do “amor”, mas como explicar e a interromper para dizer não se tratar do amor carnal, sensual, mas sim do amor incondicional para com o Deus, o Sagrado, o Divino... Talvez no momento lhe faltaria a compreensão.
Dizem que o objetivo de Heráclito, por exemplo, era expressar as verdades de forma inacessível à massa. Pensava que não se deve “deitar pérolas aos porcos”. Caso contrário as perigosas palavras, facilmente deturpáveis tomariam sentido imprevisto e não o almejado. Falta compreensão à maioria para tais sutilezas.
Então, como poderei trazer tais conhecimentos para mais perto de todos?

NiNo Strapillo
19/02/2005

Regras da Escrita

Cada vez amo mais os livros, pois descubro em seus amplos e infindos mundos, que não estou só nesta vida. Conheço realidades onde posso considerar-me “normal”. Diferente de como sou considerado do “lado de cá” das páginas. O verdadeiro “patinho feio”.
O que sempre fora motivo de preocupação na minha vida, quanto ao meu possível desenvolvimento no mundo adulto, agora se torna para mim mesmo (quem mais importa!), motivo de extremo orgulho. Sou estranho, graças a Deus!
Por exemplo, me achava uma aberração por amar ler e escrever, mas não compreender absolutamente nada da gramática. Afinal, que porra! Como pode isso? Não pode, pensava eu... Mas pode sim, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Nas leituras, lido com as “metamorfoses” ditas por Elias Canetti, com a polifonia de Dostoievski citada por Bakhtin, não com regras criadas por técnicos da língua, burocratas das letras. Amo a dança da caneta pelo corpo do papel, não as regras do idioma.
Não descarto a importância da gramática, mas o que importa mais, o prazer do conhecimento proporcionado por um bom livro, ou a correta colocação de vírgulas e pontos? Temos assim, jovens máquinas de lógica sem noção, nem imaginação. Como diz Nietzsche (Ecce Homo), “fósforos apagados”.
Essas malditas normas lingüísticas me fizeram “perder” (vai saber!), dois anos no colégio pela minha inépcia, incapacidade de bem compreendê-las. Hoje sei que não perdi nada, ganhei na paciência.

Christian Scarillo
12/06/2006

Não à Filosofia

Tremi ao ouvir do querido jovem a sua disposição quanto a carreira a seguir: “Farei filosofia professor. Estou decidido”. Não! Decididamente não – pensei eu! Oh meu Deus! Estou sendo uma influência péssima a estes jovens. Por favor, tudo menos a filosofia! Abstenha-se do pensamento! Não estrague a sua vida, a sua alegria. Siga outros caminhos. Melancólico basta eu!
Penso que se alguém buscar a filosofia após ouvir-me, é que não me expressei como deveria. Fuja dela, deveria dizer claramente.
Aula após aula chegamos à conclusão de que não há nenhuma (conclusão) a se chegar. Que as perguntas se sucederão e acumular-se-ão “ad infinitum”, e com elas, o desespero da incerteza. O “só sei que nada sei” socrático mais me parece uma maldição agora! Feliz vive aquele que afirma o saber (mesmo que iludido). Este sim, leva a vida adiante. O questionamento atravanca os passos.
Que mal fiz a esse garoto, se o levei a crer que na filosofia obteria alguma resposta às suas questões existenciais. Eu, o medíocre da vida prática, o atulhado de pensamentos... Indeciso e improdutivo. Mal, isso vai mal!
Talvez fosse melhor se todos ignorassem minhas palavras, e minha aula transcorresse como um leve descanso entre as matérias de “real valor”.
“Que bom, agora teremos filosofia. Aquela aula que não serve para nada – mas relaxa!”.

Não me levem a sério, o caminho que aponto é um embuste. Chega de sofredores.


Christian Scarillo
21/08/2006