terça-feira, 24 de março de 2009


Meantime


O ambiente azulado pela fumaça dos cigarros deixa transparecer o clima tenso e denso. Dois homens olham para além da imagem que a TV mostra, estão preocupados com suas vidas, vidas sem vida, vida de privações e desencantos. Uma voz vem até eles, nem se apercebem estão alienados.
Lá fora o sol que não sai por detrás das nuvens pesadas, carrega ainda mais no tom acinzentado das construções da cidade de altos progressos e muitas desgraças. Jovens perambulam pelos cantos, pelos becos, buscando o que da vida fazer, qual atitude tomar, uma resolução que os tire daquele estado de coisas. Desenganados.
O governo prometeu ajudar, buscar formas para aplacar a sensação de incapacidade, de indigência. Muitos estão assim, assim perdidos, perdidos entre sonhos de melhores dias. Falta. Falta de dinheiro, de ajuda, de esperanças, de trabalho. Mas todos não estão assim? Assim como?
Classes que se dividem, lutando pela sobrevivência de sua estirpe, lutando para não ser rebaixadas mais ainda de seus já minguados recursos. Disputando o pouco que lhes permitem com aqueles mais fracos ainda, revolvendo o lixo da sociedade.
O tom azulado se adensa, a resignação domina e a fé sucumbe.

Quem tiver saco que leia...

Tempo idiota os nossos, tô de saco cheio! E foi agora que me deu o "estalo".
Tempo pobre culturalmente, mentalmente pobre. Sem interesse verdadeiro no que de mais belo a vida oferece.
Como posso sentir-me tão feliz com os "simples" acordes do piano, quando as pessoas e o mundo ao meu redor giram na sua ignara vacuidade?

Sou um jovem velho de 100.000 anos. Quase vou às lágrimas diante de tão sublime sentimento.
Enquanto isso, meus "comparsas" de infortúnio batem-se no "lufa-lufa", sem o mínimo pudor (ou amor, pela arte?), (será que sabem o que é isso?).
Relendo os "desabafos" de sete longos anos atrás, percebo que era uma pessoa muito mais crítica e verdadeira do que imagino ser hoje. Será que estou amolecendo frente às facilidades da vida? Um emprego? Um pequeno luxo?
Tá certo que não poderia sentar-me agora neste "ambiente" e escrever ao som do piano do velho sábio que me inspira. Mas não sentaria eu à porta???
O carro do "boy bobo" passa com a música ensurdecedora. Mal sabe ele o que aqui se passa! Imagina então aqui dentro, ó...!!!
Nunca saberá! Futilidade... A desgraça da humanidade. Como busco fugir dessa merda!
E nesse momento o "old man" começa a música "Força Estranha" do Rei Roberto.
Coincidência???
Não. Eu sinto essa "força estranha" no ar! Ela me rodeia, se aproxima e foge.
Compreendo agora que não é só por problemas econômicos ou amorosos que um ser (racional?) tira a sua própria vida!
Um bar, uma cerveja, a polenta chegou agora. Estou na Mooca, na minha Mooca (saudosista e reacionário sim!), um senhor ao piano tocando acordes atemporais e lá fora o mundo se esfalfa na desgraça.
Estou ficando idoso!
Ou já nasci assim???
TitoIgatha18/03/2006

Vampiros

Você acredita em vampiros? Não. Pois bem, deveria! Eles realmente existem. E como aqueles de cinema, estes sugam. A diferença é que não será o seu sangue, mas sim a sua energia que estes vampiros esgotarão.
Eles estão por aí e provavelmente você já vampirizou muitas pessoas também. Como? Roubando mesmo que inconscientemente suas energias.
Vai dizer que você nunca manipulou alguém? E digo até no relacionamento amoroso, lutando pelo poder na relação, impondo vontades?
Sei lá!
Mas da mesma forma, temos pessoas que são doadoras de energia. Que a simples presença nos eleva a disposição, a boa vontade. Diante dessas mentes especiais nos desvelamos. Com ótima percepção e domínio acabamos por discorrer sobre os mais variados temas, ou então, confidenciar planos e projetos como numa catarse.
Podem crer, temos uma fonte de energia que não discutindo a possível fonte, está aí. E ela funciona realmente. Este negócio de poder da mente é real e as pessoas não se dão conta deste poder.
Está tudo nas nossas mãos, ou melhor, na mente. Mas não discuto o tema, pois sei o quanto é difícil manter a consciência de tais coisas e se policiar. Geralmente não nos damos conta desta dimensão e nos atemos simplesmente à nossa realidade aparente.
Se soubéssemos o quanto fazemos mal a alguém sem o saber...
Deveríamos desenvolver formas de aproveitar esta energia para um maior desenvolvimento espiritual do planeta. Não sei de que forma, mas sei!

NiNoSca
09/02/2001

Comunista

Outro dia indo para a faculdade, tive a chance de ver uma exposição no Metrô a respeito dos conturbados dias de ditadura. Fotos de momentos marcantes para toda uma geração. Jovens sendo agarrados e presos pelas malhas da lei, em meio a manifestações e comícios.
Andava anestesiado por entre as gravuras, tentando absorver um pouco o espírito daqueles determinados jovens que lutaram para atingir o que temos aí. Bem ou mal!
Não escutei toda a frase, embora o que tenha ouvido já tenha sido válido para que entendesse algumas coisas.
Um homem com uma garota ao lado, passou, olhou e disse: - Olha só. Bem feito, é tudo comunista!

Se tal frase fosse proferida num metrô parisiense, não me espantaria. Povo letrado, político, com forte consciência histórica, ideologia e tudo o mais. Agora, na Estação Bresser? E sem preconceito algum poderia dizer que pela cara do “figura”, sua formação política era daquelas de quem acredita no Maluf e só... Ele com certeza não possuía nenhuma idéia do que acabara de falar. A frase não passou de uma reprodução imediata de um conceito repetido à exaustão. A idéia que lhe surgiu não lhe surgiu, foi implantada por uma máquina que mostra conceitos sem explicá-los, então, quando aquele infeliz exprimiu sua fraca concepção, não queria dizer nada além de um “desordeiro desgraçado”. Ligando a imagem que nos passam de um “comunista” a de um arruaceiro qualquer e também não atentando para o fato de que eles, os comunistas, lutavam contra o regime que o faz pegar um metrô lotado em busca do sustento de sua miserável vida.

Pobre ignorante.

NiNoSca
23/08/1999